A UFBA abraçou Angela Davis

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Já era previsto. O Salão Nobre da Reitoria da UFBA seria pouco para a conferência Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo, proferida pela filósofa e ativista estadunidense Angela Davis.

Pensando nisso, a Coordenação do evento, conforme foi divulgado, instituiu locais para transmissões ao vivo e em telão: a quadra ou o Auditório do IFBA e o Auditório do ISC/UFBA. Ambos no bairro do Canela.

Salvador, no entanto, queria mais; a Salvador mulher, negra, humanista e preocupada em combater as violências queria estar perto de Angela, sentir seu sorriso, trocar saberes com ela. 

Restava, portanto, liberar o espaço, promover sua ocupação, dar passagem à celebração que já se acenava durante todo o dia de ontem, 25 de julho.

Caravanas do interior da Bahia, de Sergipe, Pará, Alagoas, vieram para assistir à conferência de Angela Davis e, mesmo que sentados no chão, ouviram atentamente Angela começar sua fala pontando a grande emoção que sentia em estar com todos ali, celebrando o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Afro-Caribenha. "E o Julho das Pretas", falou Angela, em português.

Angela, que vem ao Brasil desde 1997, reconheceu em sua fala o sem número de grandes mulheres negras brasileiras ao longo da História e disse, " as mulheres negras brasileiras são o futuro do movimento no mundo".

O discurso de Angela Davis é, antes tudo, um discurso de solidariedade contra as violências perpetradas no mundo contemporâneo, sobretudo racismo e violência contra as mulheres negras. Racismo e violência no sistema carcerário contra a mulher negra queer, trans, portadora de deficiência. 

Tanto no Brasil quanto nos EUA, acrescentou, "o racismo está saturando as relações. As mulheres negras são o grupo mais não liberto, mais massacrado e mais violentado do mundo, mas não deixo de reconhecer o papel importante que têm, por manterem viva a chama da esperança”.

A conferência de Angela Davis na Reitoria, proposta pelo NEIM, foi acolhida pelo reitor João Carlos Salles, que acionou a equipe de gestão para assegurar toda a infraestrutura do evento e proporcionar as melhores condições logísticas a seu pleno êxito, incluindo o sistema de gravação e transmissão ao vivo. A Reitoria também se responsabilizou pela organização da entrevista coletiva da conferencista, na tarde de ontem, antes da palestra.

Angela Davis é ativista política de longa trajetória, ou seja, desde os anos 1970, quando se apresentou ao mundo como comunista e dirigente do grupo radical Panteras Negras (Black Panther Party). Ganhou mais notoriedade ao ser feita ré de um dos mais controvertidos julgamentos criminais da história de seu país, o que terminou por lhe valer, em 1979, o Prêmio Lênin da Paz. Traz no currículo décadas de lutas pelos direitos civis das pessoas negras e contra seu encarceramento em massa, batalhas contra múltiplas formas de racismo e de sexismo, temas a que mais recentemente adicionou o da sustentabilidade do planeta. Em paralelo, Davis é pensadora respeitada nos meios acadêmicos, reconhecida pela competente articulação que estabelece entre demandas dos movimentos sociais e reflexões teóricas. Formou-se em Filosofia pelas Universidades Brandeis dos Estados Unidos, Sorbonne, na França, e de Frankfurt, na Alemanha, e nesse percurso foi aluna de Jean-Paul Sartre e de Herbert Marcuse. Hoje ela ocupa a Cátedra Presidencial da Universidade da Califórnia no Departamento de Estudos Afroamericanos. Aos 73 anos, Angela Davis entende que “o desafio do século XXI não é reivindicar oportunidades iguais para participar da maquinaria da opressão, e sim identificar e desmantelar aquelas estruturas nas quais o racismo continua a ser firmado". Este é o único modo pelo qual "a promessa de liberdade pode ser estendida às grandes massas”, afirma. Autora de dezenas de livros, entre seus trabalhos mais lidos estão Mulheres, cultura e política, O significado de liberdade, As prisões estão obsoletas? e Mulheres, raça e classe, publicado em 1981 e recentemente lançado no Brasil.

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